O Seminário de Cultura surgiu em 2004 com o nome de Seminário de Teatro a partir da sugestão de Anderson Flores, ex-integrante do Teatro Experimental de Alta Floresta (TEAF) falecido em 2016. À época, estávamos vivendo um momento efervescente no teatro em Alta Floresta, quando havia oito grupos em atividade. A maioria deles tinha o envolvimento direto do TEAF, principalmente “reforçando” elencos com a presença de atores e atrizes convidados em suas montagens e, em geral, o setor técnico era ocupado por integrantes do TEAF.
Naquele período, houve uma tensão entre o movimento teatral, liderado pelo TEAF e a então gestão de cultura devido ao desmanche do “Teatro de Bolso”, espaço localizado à Av. Mário Razeira Leinig (Rua F) que havia sido construído em uma espécie de mutirão e cooperação entre poder público e movimento cultural em um galpão onde funcionou uma oficina de motores estacionários para garimpo. O Teatro de Bolso, equipado, inclusive com refletores e fiação elétrica do TEAF, foi desmanchado sem prévio diálogo com os grupos. E, daquela situação, Agostinho Bizinoto (um dos fundadores e ex-integrante do TEAF, falecido em 2017) propôs a criação da Associação Alta-florestense Teatro (ATE). Vale destacar, como registro histórico e para acentuar o caráter radicante (BOURRIAUD, 2009) do teatro, nome e organização inspirada na Associação de Teatro de Uberlândia, em Minas Gerais (ATU), fundada no início da década de 1980 e que Agostinho foi presidente em seus anos iniciais.
Na esteira daquele movimento insuflado pela perda do espaço nasceu a Associação Alta-florestense de Teatro e, pouco tempo depois, a Prefeitura Municipal alugou um prédio, originalmente construído para ser um boliche, mas que estava sendo utilizado como uma igreja evangélica, e o entregou para a Associação. Na rua do Araújo, 28, passou a existir, então, o “Teatro Oficina” (uma homenagem ao grupo homônimo liderado por José Celso Martinez Corrêa). Um espaço adaptado com um pequeno palco à italiana e 200 cadeiras plásticas que foi organizado em regime de mutirão entre grupos e apoios eventuais da própria Diretoria de Cultura do Município.
Com vistas a proporcionar espaços para reflexão e aprendizagem sobre Teatro foi realizado pela ATE o I Seminário de Teatro, ocorrido em 2004. Contudo, mesmo diante do número de grupos em atividade, foi constatado que um seminário restrito ao campo teatral não alcançaria satisfatoriamente o próprio público interno (os fazedores de teatro, na sua maioria adolescentes e/ou muito jovens) e menos ainda o público da cidade. Por isso, já no ano seguinte, o evento foi transformado no Seminário de Cultura de Alta Floresta e se dedicaria a discutir a cultura na inter-relação com diversos temas, sustentando-se na ideia, comungada pelas lideranças da ATE e do TEAF naquele momento, de que “a cultura faz a intersecção entre todos […] [os] temas”.
O Seminário surgiu como um projeto de continuidade que se propunha a preencher lacunas importantes no campo da Cultura e com a pretensão de ser um “momento criado para atender as demandas de discutir assuntos relacionados à cultura e todo o fazer humano. Esse seminário envolve nas discussões não somente o município de Alta Floresta, mas todos os municípios do território ‘Portal da Amazônia’”, como foi escrito no projeto elaborado com fins de obtenção de apoio para a 4ª edição em 2004 (Disponível nos arquivos do TEAF).
A ATE paralisou suas atividades em 2008 e no ano seguinte foi extinta. Mas o fato de o seminário, assim como a associação, sempre ter sido liderado pelos integrantes do TEAF (dentre os quais destacamos Anderson Flores, que exerceu a função de coordenação do evento até sua 10ª edição), tornou a continuidade do Seminário algo natural para o Teatro Experimental.
Até 2011, o evento ocorreu anualmente e, somente em 2014 aconteceu nova edição. A última com as presenças de Agostinho Bizinoto e Anderson Flores. Depois, ocorreu mais um hiato e o TEAF voltou a realizá-lo somente em 2018. E, finalmente, em 2022, após vários percalços ante às exigências documentais para emendas parlamentares e posterior conveniamento junto à Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (tramitação ocorrida em meio às turbulências, angústias e desalentos políticos e pandêmicos em nosso País, é bom que se diga), realizou-se a 12ª edição.
Como sempre, corremos para agenciamentos que buscam tornar nossos desejos em acontecimentos, como dizem Gilles Deleuze e Félix Guattari. Na extinta ATE e no TEAF nunca deixamos nossos desejos de realizarmos o seminário de lado. Assim, como nunca abandonamos o desejo de produzir uma publicação como esta. Uma amostra das riquezas das discussões e provocações que se deram (e queremos que continuem acontecendo) em cada edição do Seminário de Cultura de Alta Floresta.
Não temos dúvidas, enquanto TEAF, da magnitude das afetações positivas que as várias discussões, temas e mesas têm sobre nosso modo de ser Teatro de Grupo e em nosso modo de mantermos nossa sede, o Espaço Cultural TEAF. Uma sede que transformamos em um equipamento de cultura e nos orgulhamos em dizer que se dedica a servir não apenas ao Município, mas, sim, à Cultura, ao Teatro e às demais linguagens artísticas. Não vamos discorrer sobre a importância do Seminário para nós e para a cidade neste espaço, mas, reafirmamos nosso orgulho em o realizar há tantos anos.
Desde 2004 buscamos produzir registros da memória do Seminário com o intento de gerarmos uma publicação. Tal publicação aconteceu com a realização da 12ª edição e pode ser baixado na íntegra através deste link – Ebook – Seminário de Cultura de Alta Floresta – Caderno de Debates